30/05/2019

Você sabe o que é um transtorno alimentar?

Você sabe o que é um transtorno alimentar?

Você sabe o que são considerados transtornos alimentares? No domingo, dia 2 de junho, é lembrado o Dia Internacional da Conscientização dos Transtornos Alimentares. E, para solucionar algumas dúvidas sobre o assunto, pedimos o auxílio da psicanalista da Clínica Mova, Ana Paula Gramacho.

 

O que podem ser considerados transtornos alimentares? 

Transtornos alimentares são transtornos psíquicos: bulimia, anorexia, compulsão alimentar, ortorexia (alimentação saudável), pica (comer objetos) e ruminação (regurgitar). Muitas vezes são sintomas escondidos o que dificulta a descoberta da doença por um familiar e o pedido de ajuda.

Com que idade é mais comum o surgimento de transtornos alimentares?

A adolescência é uma época onde o corpo passa a ter um estatuto diferente, ou seja, é preciso agora significar o corpo de outra forma a partir das relações com meu igual (mesma idade) onde o desejo passa a circular diferentemente da infância, fazendo desta fase a mais comum para desenvolvimento de tais sintomas alimentares. Porém, podem surgir também como consequência de outros fatores como a cirurgia bariátrica. Neste o corpo também muda, porém não há como garantir a mudança de uma compulsão já previamente existente. Na infância também é possível a formação de tais sintomas alimentares, como resposta a algo que a criança não está conseguindo lidar.

Esse distúrbio é mais comum no seo feminino? Por quê?

Sim, há uma prevalência para o sexo feminino, porém também ocorre com o sexo masculino. Muitas são as discussões e levantamentos clínicos e de pesquisa quanto a isso. Podemos partir do princípio que a cultura, o meio social, participa das novas formações de sintomas de tempos em tempos. Isto devido à exigência de cada época, da forma de viver e se relacionar, do que é tabu e o que é permitido. Por exemplo, já tivemos época em que a anorexia no mundo da moda era algo visado, havendo uma exigência para além da saúde levando a riscos importantes, como risco de morte. A partir disso, criou-se uma ‘regra’ para que as modelos pudessem ficar em determinado peso, dentro dos parâmetros de saúde, caso contrário não seriam contratadas. Bom, a exigência com o corpo feminino sempre esteve mais acentuado em nossa cultura, corpo enquanto aquilo que entra num ideal para o outro, assim a complexidade da exigência no social vai se entrelaçando com a complexidade individual.

Qual a melhor forma de tratar esse distúrbio?

Para Psicanálise, ciência que desde Freud lida com anorexia e graves adoecimentos por conta do funcionamento psíquico, no tratamento é imprescindível uma equipe interdisciplinar que fale a mesma língua. Que tenha o entendimento do sintoma não somente como algo externo, mas que coloque o sujeito como participante ativo de sua dificuldade, porque sem isso fica praticamente impossível despertar o desejo do paciente por apresentar melhoras. Tratar somente o sintoma sem que o paciente esteja implicado é uma medida paliativa que acaba por fazer retornar o sintoma, é apenas uma questão de tempo. No caso de anorexia grave, onde há necessidade de internação é necessário que haja seguimento de psicoterapia, ou seja, que tenha preservado o espaço para a fala e as intervenções na fala, abrindo assim uma possibilidade de mudança, caso contrário, a paciente somente adormece para depois retornar com seus sintomas.

Qual a importância do Dia Internacional da Conscientização dos Transtornos Alimentares?

Esta foi uma conquista a partir da construção no social quanto a possibilidade de falar dos males que acometem qualquer ser humano. Portanto, é preciso aproveitar o dia que marca tal transtorno como um convite para pensar e repensar suas causas, desenvolvimento e consequências. O dia é como um marco, uma lembrança de que temos muito a fazer, a trabalhar e a ajudar, e para isso temos os outros 364 dias. Muitas vezes a população não tem ideia do que é um transtorno alimentar e a gravidade deste, assim como não tem também a ideia da frequencia que isso acontece. Nós, na clínica psicanalítica, somos testemunhas da gravidade destes tipos de sofrimentos. A informação é sempre muito importante para tocar o olhar de cada um que, muitas vezes, passa a identificar um sintoma familiar ali onde parecia algo comum, e pode assim oferecer ajuda.